Vamos voltar para 1970, algumas garotas do colegial, minhas amigas, e a minha
irmã mais nova, prontas para se divertirem e se assustarem...
Qualquer pessoa que já brincou de evocar espíritos sabe que crianças adoram
"trapacear". As minhas amigas não eram exceção; alguém sempre empurrava o copo
para o "sim" se a pergunta envolvia a paixão do dia dessa pessoa.
Uma noite decidimos parar com as coisas infantis e decidimos fazer a coisa
séria, e implementar um sistema que dificultasse, se não tornasse impossível,
trapacear.
Nós pegamos uma cartolina e escrevamos todo o alfabeto, formando uma meia lua de
letras, e um SIM e um NÃO no meio da cartolina. Uma pessoa foi selecionada para
ser o "canal", ela que manipularia o copo. Ela foi muito bem vendada, e colocada
de frente para a cartolina com as letras de ponta cabeça vendo da posição dela.
Uma outra pessoa era a "questionadora", ficaria sentada de frente para o "canal"
e faria as perguntas. O resto de nós seríamos as "observadoras", escreveríamos
em cadernos tudo o que fosse escrito pelo copo.
Ficou tudo em silêncio quando nos sentamos e apagamos a luz do quarto, só
deixando algumas velas acesas. O único som que se ouvia era o copo sendo
suavemente deslizado sob os dedos do "canal". A "questionadora" perguntou se
havia algum espírito que gostaria de fazer "contato". Nada aconteceu de
imediato, mas então o copo soletrou, letra por letra, "s", "i", "m" (nota: o
copo não foi direto para o SIM que tinha escrito na cartolina.) Nós não falamos
para o "canal" qual tinha sido a resposta. Ela não parecia estar tendo muitos
problemas para soletrar de cabeça para baixo e vendada, ou pelo menos é o que
parecia. Será que o nosso experimento tinha dado certo, será que alguma coisa
estranha estava realmente acontecendo?
Depois, foi pedido que o "espírito" se identificasse. Na hora foi soletrado
lentamente "Jorge". "Jorge" parecia estar tento problemas para soletrar o que
respondia, as vezes cometia algum erro gramatical, pelo que parecia ele tinha
sido pouco instruído. Estava ficando tudo bem estranho. As mensagens estavam
ficando cada vez mais complicadas, estavam ficando uma coisa que alguém não
conseguiria soletrar vendado e de ponta cabeça. Além de alguns cochichos e do
barulho do copo escorregando pela cartolina, nenhum outro som era ouvido,
enquanto "Jorge" contava a sua triste história.
A sua família inteira, incluindo ele, morreram rápido de "febre" e de "tanto
vomitar" (cólera?) Ele falou que a casa estava ficando escura e fria, e que ele
era o último membro da família ainda vivo, e que ele estava ficando muito
doente. Ele falou de "cortinas balançando, vento frio entrando pela janela, não
consigo levantar...ninguém vem ajudar?"
Nesse ponto já estávamos começando a ficar bem nervosas e com medo.
De repente o copo deu um susto na gente, se movendo bem rápido (nesse pondo o
"canal", que estava vendada, pareceu ter perdido o controle total dele!)
Soletrava sem parar "PECADORES PAREM COM ISSO, PECADORES PAREM COM ISSO!"
Então é claro que nós paramos, depois de mandar o "Jorge" embora. Quando olhamos
a cartolina ela estava toda arranhada. Olhamos a beirada do copo e vimos que ele
estava todo áspero, como se tivessem lixado, algo impossível de se fazer
simplesmente passando o copo em cima de uma cartolina, e sem trincar ele.
Nós jogamos a cartolina e o copo fora e nunca mais fizemos aquilo de novo.
Desculpa, Jorge!
Laura - São Paulo - S.P.